Caminhou até a área da frente da casa segurando a xícara cinza com chá até a metade em um das mãos, na outra um pote com açúcar e uma colher dentro. Rastejou os pés bem devagar, percorreu toda sala e atravessando a porta viu o conjunto de mesa e cadeira em um dos cantos da área, inclinou a cabeça e jogando os fios brancos para o sentindo oposto no outro canto pode ver um amontoado de coisas velhas, caixas e mais caixas, sobre as caixas livros e mais livros, tudo com cheiro de mofo e mais mofo.
Ligeiramente se ajeitou e a sua frente viu uma pequena escada que dava pra rua, pensou em ir até o outro lado, mas tinha algo que pesava nela, deve ser por isso que andava assim meio torta, quem há visse jurava que seu corpo formava um C perfeito, mas os anos andaram pesando mesmo, e pesavam tanto que de hora em hora os pés não agüentavam, começavam a inchar e era como se eles fossem deixá-la na mão, depois de exatos 76 anos.
Usou da velocidade que pode, e após minutos estava sentada na cadeira colocando a xícara e o pote de açúcar na mesa, suas mãos tremiam de uma forma que nem se estivesse sentindo o pior dos frios poderia explicar o porque de tanto balançar.
Fez um esforço danado e conseguiu pegar a colher e enchê-la de açúcar, mas no meio do caminho, entre o pote e a xícara, o açúcar estava espalhado sobre a mesa, guardou a colher e resolveu esperar mais um pouco. Mexeu nos poucos fios de cabelo branco tentando ajeitá-los, apesar da idade ainda havia restado algo de vaidade nela. Enquanto tentava controlar as mãos para colocar açúcar no chá sentiu algo se aproximar, algo que parecia vir das caixas, dos livros, do mofo, não se importou em olhar o que era, pegou a colher encheu-a de açúcar e despejou no chá.
Pegou a colher encheu-a de açúcar e despejou no chá.
Algo que parecia vir das caixas, dos livros, do mofo.
Pegou a colher encheu-a de açúcar e despejou no chá.
Algo que parecia vir das caixas, dos livros, do mofo.
Fez o mesmo três vezes, dissolveu o açúcar com movimentos circulares e envolveu a xícara com ambas as mãos, levou o chá - com muito açúcar - até a boca, mas antes que pudesse bebê-lo sentiu algo tocando-a, não teve mais forças. A xícara se fez em diversos pedaços, o chá molhou seu vestido florido e seu corpo se curvou ainda mais, caído no chão - imóvel - deixou de formar um C para agora fazer um O.
Iria finalmente descansar, o seu único pesar foi não ter tido tempo de beber o maldito chá.
Era preciso mais.
ResponderExcluirTalvez um pouco mais de chá, ou quem sabe até um pouco mais de vida.
Ótimo texto.
Beijos!
Entre os blogs que sigo, creio que esse está entre os que mais me surpreendem
ResponderExcluirseus textos são longos, e isso deve causar preguiça em muita gente, sei lá
mas eu acho envolvente, gosto do ritmo deles
e gostei da secura, da realidade desse,
só isso mesmo
bjos
Ah..
ResponderExcluirum pouco mais de vida seria melhor..
amei o texto
Sempre surpreendendo hein Deia?
ResponderExcluirTalvez seria preciso mais chá na vida, ou mais vida pro chá... e outra colher de açúcar.
Otimo texto.
Acho que mais vida pro chá. (y)
ResponderExcluirAaaaah a velhinha foi pro paraiso encantado poxaaa :S
ResponderExcluiré a vida fazer o que né Deia, hehe
grande mente a sua :)
bjs;*
Ananda Larissa
www.anandalari.blogspot.com
Boa noite, vejo teu texto como que um alerta para vivermos mais intensamente cada minuto de nossas vidas, pois ao c-hegarmos na velhice, tudo passa muito mais rapidamente e de repente, do nada, a nossa vida se vai, pois como li outro dia num blog., voce nao escolhe quando quer nascer e nao adivinha quando vai morrer...forte! Gostei, dura realidade, mas metaforicamente, lindo! Bjin
ResponderExcluirTadinha. >.<
ResponderExcluirEra preciso ter ido ver o que havia nos livros. Iria animá-la, talvez. Rs.
ResponderExcluirUm beijo.
Own , tadinha.
ResponderExcluirQuem sabe um pouco mais de vida ao chá não faria bem.
Passa lá amor?
http://jooymartins.blogspot.com/
Beijos *-*
Gostei muito desse texto! Parabéns.
ResponderExcluirSurpreendente, realista e ao mesmo tempo, delicado!
ResponderExcluirParabéns :)
Coitada da senhouuura. O que a tocou? Um rato talvez?
ResponderExcluirGostei do texto.
Beijos
http://www.submundopcris.blogspot.com/
Como pode retratar uma coisa tão... digamos complexa, como a morte com tanta simplicidade?
ResponderExcluirSó você mesmo, Deia, rs
Texto lindo, viu?
Beijos e ótima semana
É, o texto é maravilhoso, querida!
ResponderExcluirparabéns!
deia, concordo com você, faltou mais vida pro chá, rs.
ResponderExcluirlindo o texto, parabéns doce :*
beijos, s2
http://sabrinanunees.blogspot.com/
Texto lindo!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSempre venho aqui! Gosto de tudo, do jeito que você traduz os pensamentos em palavras. Sinto algo muito agradável. Tava com saudades de deixar um comentário.
ResponderExcluirBeijos Deia ♥
Perfeito . otimo texto . obrigada pelo carinho . adoro aqui tbm !
ResponderExcluirhttp://www.atamyslarissabarbosa.blogspot.com
beeijos
E era o fim que vinda das caixas, dos livros, do mofo...era o fim.
ResponderExcluirAdoro textos construídos assim, flor.
Parabéns.
Um beijo.
Oi minha flor passando pra desejar uma semana encantadora cheia de paz , luz, e amor, que ela seja repleta de doçuras, assim como tu, Beijos Meus :*
ResponderExcluirE essa realidade que assusta a maioria das pessoas. A morte. Me ponho a pensar o que seria viver o bastante? O que devemos levar em conta pra fazer esse cálculo? Nunca se sabe não é mesmo?
ResponderExcluirGostei do texto, a complexidade que vem do simples, adoro textos que me fazem pensar em como...
Borboletas coloridas pra vc! hehe
É muito bom mesmo ver que passamos por coisas difíceis mas que hora superamos *-*
ResponderExcluirPassa lá?
http://jooymartins.blogspot.com/
Beijos
Linda, você tem o dom. Continue a escrever e fazer o mundo brilhar com as suas palavras. Um beijo no coração!
ResponderExcluirwww.aurevoirsaudade.blogspot.com
76 é muito pouco. Eu teria espantado o 'algo' pra longe... Pelo menos por mais alguns anos, para que pudesse regar o fim da vida com muito muito muito chá. E 'que seja doce'!
ResponderExcluir'Repito todas as manhãs'
ResponderExcluirA cena constante a mover aqui. Belo texto e uma linda escrita. Um beijo!
ResponderExcluirNossa deia :) liindo ^^
ResponderExcluiramei o post, parabéns.
muito lindo o texto, até a morte ficou bonita em suas palavras.
ResponderExcluirhttp://saiadeflorbm.blogspot.com/
Falta coragem para vida.
ResponderExcluirhttp://bodegadopadilha.blogspot.com
O tipo de texto que nos prende do inicio ao fim. Muito bom :) Uma delicia de leitura.
ResponderExcluirMeu novo blog: http://essenciadormecida.blogspot.com
Gostei do texto *-*
ResponderExcluirIncrível como seus textos mechem com a minha imaginação UHSDUAHSDA. Lindo demais, surpreendente mesmo. Beijão ♥
ResponderExcluirVocê tem uma mente tão linda e também surpreendente. Gostei do texto, querida.
ResponderExcluirPoxa.. tadinha!
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