O amor é paciente - seis

Chegando a frente ao apartamento, lá estava o nome dela escrito inúmeras vezes na porta, entrando em casa a sensação era ainda pior. Perdiam-se no meio deles: Júlia... Júlia... Júlia...

Oscar foi direto abrir o guarda-roupa, se sentindo no alto de uma roda gigante, cercado pelo nome de sua amada, era como se cada nome pintada na parede fosse uma estrela, se sentiu cheio de uma alegria incontrolável, tirou o lacinho de cabelo do bolso interno do palito e abriu o guarda-roupa. Não havia nada, nenhum lacinho, nem mesmo o mais feio deles - o Oscar assim como a Júlia não achava que nenhum deles fosse feio, é claro - não havia sobrado.

- Dona Dete!

- Filho, porque me chamou de Dona Dete? Você só faz isso quando está irritado.

- Desta vez não me venha com um sinto muito. Onde estão os lacinhos?! Me diga agora!

- A Júlia veio buscá-los - disse desviando o olhar.

- Logo você que quando eu era criança dizia que mentir é feio. Engraçado, quando nos tornamos pessoas grandes, mentir vira um hábito - deu de ombros, emburrando-a.

Com o único lacinho que restou nas mãos, foi até a cozinha e encheu um daqueles copos de extrato de tomate com café. Levantou-o um pouco e mirando o fundo não visível, repetiu para si mesmo: "Haverá dias difíceis, dias que eu não estarei ai, mas acredite em mim, não importa o que aconteça, sempre estarei contigo,e  voltarei, prometo. Espere-me e não desista da gente. Com amor de sua eterna amada, Júlia.", ele havia decorado, e repetia ao menos três vezes por dia.

Quando levantou os olhos do copo, que já não estava tão cheio quanto antes, pode ver a luz da sala se acender, e o som da tevê sendo ligada - era a mamãe, a luz iluminou um pequeno pedaço de pano rosa, sujo de cinzas, que estava ao lado da lareira.

Com passos largos e o gosto de hortelã na boca, despejou o restante do café frio na pia entupida, e ligeiramente se abaixou pegando o que sobrara do laço com as mãos juntando-o ao último que havia comprado, ficou perto o suficiente para ainda sentir um pouco do calor que ainda vinha da lareira.

- Quer dizer que foi a Júlia, em?  - balbuciou com a raiva transbordando pelos olhos.

A senhora já estava imóvel o olhando, desde o momento que entrou na sala indo em direção a droga do lacinho que não quis se queimar. Desta vez não teve como se conter, deixou as lágrimas caírem e tentou abraçar Oscar, mas ele, desta vez estava incontrolável.

- Você mentiu pra mim, desde quando chegou quer acabar com a minha vida, com meu casamento. Vá embora!

A única coisa que a mamãe poderia fazer era tentar controlar seu filho, para que algo na casa ficasse a salvo. Tudo estava indo a baixo. Vasos, tevê, quadros, telefone, o que não pode arremessar longe agrediu com chutes e socos.

Depois da crise, eis as lágrimas.

                                                                                              deia.s