Estava na estrada desde a noite passada. Sua respiração
estava ofegante, as botas sujas, e o Zezim cansado. Havia caminhado vários quarteirões
procurando-a. E nada.
Sua princesa tinha ido embora sem deixar um bilhete sequer.
Foi como tinha ameaçado ir outras tantas vezes. Sua princesa foi embora levando
tudo, apesar de parecer não ter levado nada. Quando acordou a casa estava lá.
Vazia. Com a princesa em todos os lugares. Cama. Banheiro. Sala. Cozinha.
Varanda.
Seu pensamento voou longe quando o Zezim miou, aliviado.
Olhando-o notou que ele estava bebendo algo e sendo acariciado por uma moça.
– Ele estava mesmo com sede. – Disse.
– É, me parece que sim. – Comentou o rapaz.
– Você está procurando alguém? – Indagou a jovem de
jardineira jeans e sapatos marrons.
– Acho que sim.
– Acha?
– É.
– Sei quem você está. – Parecia ter certeza do eu estava
falando.
Não disse nada, ficou olhando a moça acariciar o Zezim quase
como sua princesa fazia, começando da cabeça e parando na ponta do rabo.
– Você está procurando por você. – Sorriu olhando-o pela
primeira vez.
E de repente percebeu que antes da princesa, não era
ninguém. Estando com ela, continuava sendo ninguém. Mas somente quando ela se
foi, notou que nunca foi alguém. Convenhamos, nunca tentou ser alguém. Por isso
a casa estava tão vazia, e tão cheia dela.
– Quer um pouco de água? Ou leite? Deve estar com sede
também. – Perguntou a jovem.
– Não, obrigada. Vamos Zezim, agradeça a moça pelo leite. –
Disse para o gato. Sorriu para a moça.
Ela retribuiu o riso e não disse nada. O moço pegou o Zezim
pelos braços e balançado a cabeça como sinal de despedida, começou sua
caminhada de volta pra casa. Com a maior saudade da princesa. Mas querendo ser
alguém. Querendo ser alguém para que nenhuma princesa fosse mais embora de sua
vida.